A morte do empresário e estudante Lucas Boeira Dias, 22 anos, enquanto surfava na manhã de sábado, no loteamento Capão Novo Village, no Litoral Norte, reacendeu o debate sobre as delimitações de zonas para o esporte e para a pesca. Ao perceber que havia invadido a área de pescadores, ele e o irmão gêmeo Fábio tentaram sair da água, mas Lucas ficou preso no cabo de uma rede e não conseguiu se desvencilhar.
Frequentador de Capão Novo Village, no município de Capão da Canoa, desde os oito anos, Lucas estava na praia com a namorada Vanessa, o irmão e os pais desde sexta-feira de manhã. Estudante do terceiro semestre de Engenharia Eletrônica na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e sócio do pai e do irmão numa empresa de equipamentos médicos, ele e Fábio chegaram a entrar no mar, ainda na sexta-feira, e ambos viram que havia um cabo exatamente no limite das áreas para banhistas e pescadores.Por volta das 10h de sábado, Lucas levou a namorada ao mar para ensiná-la a surfar de bodyboard e ficou na beira, próximo ao posto 9. Enquanto isso, Fábio entrou com a prancha na água. Percebeu que a correnteza estava forte e, novamente, avistou o cabo nas proximidades. Minutos depois, Lucas deixou a namorada e foi surfar com o irmão. Ao chegar perto de onde Fábio estava, ele também percebeu que o cabo estava próximo e os dois decidiram sair da água.– Entramos na zona de banhista e, devido à corrente forte, chegamos em menos de cinco minutos à zona de pesca. Comecei a nadar para sair do mar e, quando olhei para trás, vi meu irmão se debatendo. Voltei para ajudá-lo e também fiquei preso no cabo. Gritei por socorro e dois casais que estavam caminhando na areia foram nos ajudar. Consegui soltar o lesh (corda que liga à prancha) do meu pé, mas não deu para voltar a tempo, pois ele já tinha afundado – lembra Fábio, estudante de Oceanologia da Universidade Federal do Rio Grande (Furg).Com a ajuda de outras pessoas, Fábio puxou o cabo e conseguiu retirar o irmão do mar. Uma médica estava entre os que ajudavam e chegou a prestar os primeiros socorros ao rapaz, que não resistiu e morreu no local.
O enterro ocorreu ontem no cemitério Jardim da Paz, na Capital.
Família pretende fazer campanha de conscientização
O mar não é um lugar onde entramos e ficamos no mesmo lugar, há corrente longitudinal. Não pode ter uma rede de pesca próxima ao limite das duas áreas, deve ter um espaço que ninguém ocupe, nem surfista, nem pescadores – reclama Fábio. Consternado, o pai de Lucas, o empresário Pedro Rogério Dias, espera que com a morte do filho algo seja feito para se evitar mais vítimas. Com o estudante, pelo menos 48 surfistas já morreram no litoral gaúcho em função das redes de pesca, desde 1978, segundo a Federação Gaúcha de Surf.– Estivemos em Punta del Leste há duas semanas e lá é tudo bem delimitado. Vamos homenagear o Lucas e procurar, com a Federação de Surf, fazer um trabalho de conscientização para esse tipo de problema – diz o pai.
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